Mutação

De tanto degustar pernilongos recheados de sangue, a lagartixa adquiriu um vício. Já não era mais qualquer inseto que lhe satisfazia. O tempero vermelho lhe fazia falta e a evolução das espécies assistiu ao surgimento da primeira lagartixa vampira da história natural.

Escondida entre as frestas das paredes e armários, ela espreitava suas potenciais vítimas. Pernilongos dormiam tranquilos até que a brisa da noite os despertava para a terrível canção da caça. zuuummmmmmm, zummmmmmmm e lá estava um deles inchando o seu ventre com o precioso líquido vermelho sugado de sua sonolenta vítima.

Os olhos da lagartixa cresciam, avermelhados, enquanto ela esperava o momento do bote. Cansado e satisfeito, o pernilongo logo procurava um recanto para dar início ao processo digestivo. Sorrateira, para lá se dirigia a lagartixa, pronta para o bote.
Nham…
Ao sugo (?!). Assim, ela preferia suas vítimas – sim, porque, depois que passou a escolher, deliberadamente, seu alimento, a tal lagartixa destacou-se da cadeia alimentar natural; os pernilongos deixaram de ser uma opção de alimento para se tornarem presas indefesas, vítimas marcadas para morrer.

Mal sabia a lagartixa que, assim, selava seu destino porque, ao fim da temporada de verão, o frio chegaria, os turistas partiriam e, naturalmente, se extinguiriam os pernilongos vitaminados.
A primeira lagartixa vampira estaria fadada à extinção ou à retomada de seus hábitos originais?

Nham…

– “Querida, veja que marca estranha apareceu em minha mão nesta noite. Parece uma picada de inseto, mas roída ao redor. Como se uma lagartixa tivesse me mordido.”
– “Ah, não inventa! Lagartixa só caça inseto!”

Nham…
 
(obrigada, Mateus e Paula, pela conversa inspiradora)

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